EXPOSIÇÃO
ANARCOQUEER
O projeto ANARCOQUEER - RESISTIR PARA EXISTIR construiu uma exposição física e online com obras produzidas inteiramente por artistas LGBTQIA+ . As obras foram produzidas com diversas técnicas e variados suportes como o desenho, o bordado, a pintura, a colagem, a fotografia, as palavras, os sons e os corpos.
Durante a exposição, que permaneceu aberta ao público por 60 dias, aconteceram intervenções performáticas produzidas por artistas queers participantes. Essas intervenções foram realizadas no espaço expositivo e transmitidas ao vivo via plataformas digitais a partir de lives pelo Instagram do espaço Reffugio.
Este catálogo parte de uma lógica estética e racional, mas perde-se no caminho entre processos e devaneios. Ele não substitui a experiência da exposição, mas traz um pouco de sua vertigem criativa, brincando com o olhar entre o que é belo ou feio, correto ou incorreto, normativo ou desviante.
MVAQ
MANIFESTO-VIVÊNCIA-ARTÍSTICA-QUEER
Texto colaborativo, escrito por: Adriana Antunes, Bruno Eder, Carine Panigaz, Márcie Vieira, Maria Lilith, Patrick Oderie e Rafael Dambros.
Seja o que você quiser ser, da forma que quiser ser. Não tenha medo de soar agressivo. Nossas ações são resultado das opressões e da retirada de direitos por parte do governo heteronormativo, branco e limpo.
-Não espere aprovação de outres. Nenhum direito foi doado, todos conquistados com luta e ações marginais.
-Seja resistência, reexistência, ocupação e invasão. Para que possamos estar sentido es nosses corpes, pois nós somos a verdade e a vida.Somos pertencimento e resiliência.
-Abandone os métodos institucionais de gênero, de religião e de manifestação artística. Quebre as normas e rompa com tudo aquilo que é definido como certo por uma minoria dominante. Liberte-se dessas amarras. Seja responsável pela sua fala.
-E a gente vai estar em todo lugar, a gente vai estar aonde você macho, homem, senhor de engenho, colonizador, capataz, menos esperar, você vai sentir a nossa respiração bem próxima de você, você já está ouvindo os nossos passos, já estamus mais próximus do que você imagina.
-sobre a contemporaneidade e a arquitetura hostil:
Atualmente vivemos uma cena de um urbanismo excludente, que não considera o espaço público e provoca a exclusão de minorias sociais dos centros urbanos. Cercas elétricas, arames farpados, espetos, pedras, grades no perímetro de praças e gramados, bancos curvados ou ainda assumindo geometrias irregulares, lanças em muretas e guarda-corpos, traves metálicas em portas de comércios, pedras em áreas livres, e tudo que puder de alguma forma afastar ou excluir pessoas “indesejáveis” dos locais públicos urbanos.
-Existem tantes gêneros e tantes sexos quante es corpes existem. Então não se habitue a reproduzir apenas dois. Seja ume Terrorista de gênero, isso tem haver com essa estética onde a gente se posiciona de forma violenta a esse CIStema que nos obriga a agir e ser de uma forma somente. Estamos tentando construir um novo tipo de colmeia, estamus buscando parcerias, não queremus platéia, aplausos apenas, queremus mãos que afaguem, mãos que nos toquem, mãos que nos masturbem, que cocem aonde não alcançamos, mãos que nos puxam pra dançar, que nos chacoalham quando nós estivermus meio tontes, por que isso às vezes acontece dentro de nós.
Viver no
antropoceno
é
viver
no não
linear e
no
imprevisível.
-Somos corpo. Somos alma. Somos sangue.
Somos mais que peitos, vaginas e pênis.
Somos o que você tem medo de ser.
Somos o avesso. Somos como todos.
Somos o entre-meio, a fronteira.
Somos a poesia da vida em permanente construção.
Somos o agora. Somos gozo. Somos instinto, pulsão e bem resolvidos.
Somos pensamento, palavra e fogo. Somos suor e luta.
Somos a ponta da lança que rasga a pele da sociedade hipócrita.
Somos um cardume. Somos muitos, quase todos.
Não se engane, há mais de nós escondidos em armários, debaixo do sofá, por entre as vassouras na lavanderia.
Somos o mergulho em si. Somos um mar. E basta. Aceitem, somos.
Apropriar-me do corpo.
Situar os prazeres.
Deslocar os prazeres.
Produzir subjetividades.
Degustar-me.
Desvendar e experimentar os desejos.
Desfrutar-me.
Vrááá.
Gozar é um ato revolucionário.
Obsceno, pornográfico ou exibicionista, aqui é elogio.
Minha boceta, minha lábia.
Sendo assim, a partir do MVAQ, eu ratifico que:
-Me responsabilizu em conhecer, ouvir y estudar as questões de dissidências de gêneru, d sexu biológicu, d raça, d orientação sexual, d etnia y d classe social, destruindu o capacitismu, sempre que eu adentrar y agir em qualquer espaçu y em qualquer tempu. Me fazendu responsável pela percepçãu, leitura, escuta y inclusãu ativa dessas corpas dissidentes na criaçãu y produçãu artística de narrativas diferentes, produzindu assim a necessária representatividade.
Esse texto colaborativo é uma obra que fez parte da exposição
AnarcoQueer pelo mundo